OS CAMINHOS DE SANTIAGO POR TONDELA

Um pouco de história

 

Relembra-se de forma muito sintética a lenda de Santiago, que deu origem ao notável fenómeno das peregrinações jacobitas que, como as peregrinações a Roma e a Jerusalém, marcaram decisivamente a história da Europa cristã.  

 

O apóstolo Jacobus, também conhecido por Iago, Tiago, Jacques, etc., é ainda denominado Tiago Maior, para o distinguir do outro apóstolo Tiago, dito Tiago Menor.

 

Terá estado nas Hespanhas onde pregou a Boa Nova. No ano 44 DC encontrava-se em Jerusalém a festejar a Páscoa com São Pedro e é então que Herodes Agripa o condena à morte. O seu corpo terá sido abandonado fora da cidade mas, segundo a lenda, os seus discípulos levaram o corpo até ao mar e, numa barca sem velas nem leme, empreendem a viagem até às costas da Ibéria. Entram na ria de Arosa, sobem o Rio Sar e, junto de Iria Flávia, nos domínios da Rainha Lupa, amarram a barca a uma coluna de pedra que se diz ser a que se encontra hoje sob o altar-mor da Igreja de Santiago de Padrón. Com o apoio da Rainha Lupa, o corpo do apóstolo é colocado numa arca de mármore e sobre ela construída uma pequena capela.

 

Este monumento funerário ficou abandonado durante longos séculos.

 

 Já no ano 813 da nossa era, reinando nas Astúrias Afonso II, o Casto, o eremita Pelaio tem uma visão, uma estrela extraordinária brilhando sobre o bosque de Libredon. Seguindo a estrela, no interior do bosque foi encontrada uma velha construção com três túmulos que os viajantes deduziram ser de Santiago e dos seus dois discípulos Teodoro e Atanásio.

 

A novidade foi transmitida ao Rei Afonso II que se deslocou ao local com toda a sua corte, convertendo-se assim no primeiro peregrino. Posteriormente os pretensos restos mortais do Apóstolo foram transferidos para Santiago de Compostela, onde ainda hoje se encontram.

 

A notícia, embora duvidosa, da descoberta do túmulo de Santiago espalhou-se pela Europa, com alguma lentidão, o que é compreensível, atendendo ás dificuldade de comunicação que existiam na época. A primeira notícia que há de uma peregrinação estrangeira é a do bispo francês Gotecaldo, em 950 DC.

 

Mas a partir desta data iniciou-se um notável fluxo peregrinatório que teve o seu apogeu nos séculos XI, XII, e XIII e se prolongou com grande intensidade até finais da Idade Média, continuando a ter significativa expressão até aos nossos dias. Durante mais de mil anos, os caminhos da Galiza têm vindo a ser percorridos por peregrinos oriundos de todas as partes da Europa, buscando, nas bermas das veredas os símbolos indicativos do caminho a percorrer e ostentando o seu bordão, um alforge, uma cabaça e uma concha de vieira, a “venera”, costume que já vem do tempo em que povos ancestrais demandavam a Finisterra.

 

A motivação religiosa era o pretexto primordial das peregrinações. Mas também se peregrinava “por aventura, para conhecer o mundo e ter novas experiências”, como nos diz o investigador espanhol Luís Carandell. Neste contexto os Caminhos de Santiago podem ser considerados os primeiros itinerários culturais europeus.

 

O apogeu das peregrinações a Compostela coincide com um longo período de exaltação religiosa que então avassalou a Europa. Recorda-se que esse período é contemporâneo da época das Cruzadas que, desde o século XI e durante cerca de trezentos anos demandaram a Terra Santa para a defender dos invasores islâmicos.

 

Também na Península, e sobretudo em Portugal, a reconquista era a palavra de ordem, procurando-se empurrar o ocupante árabe para o Sul.

 

Mas mesmo com estas vicissitudes adversas o ritmo das peregrinações intensificou-se, podendo dizer-se que todos os caminhos iam dar a Santiago de Compostela.

 

De todos os itinerários conhecidos o mais importante, e sem dúvida o melhor estudado, é o caminho francês que absorve a maioria dos caminhos vindos do continente europeu e se dirige a Compostela.

Outros caminhos importantes são o caminho aragonês, o caminho da prata, o caminho primitivo e o caminho do norte, todos eles muito bem estudados presentemente.

 

Rui do Amaral Leitão